terça-feira, 10 de março de 2009

Mahmoud Darwish e sua busca pela Palestina perdida.

Poucos poetas foram capazes de expressar o amor por suas terras e por seus povos com a propriedade que o fez Mahmoud Darwish.
O poeta palestino Mahmoud Darwish (محمود درويش) nasceu no dia 14 de março de 1941, no vilarejo de Barweh, ao oeste da Galiléia. Seu pai muçulmano dono de terras juntamente com sua mãe tiveram três filhos, sendo Mahmoud o segundo. Após a criação do Estado de Israel, a família Darwish mudou-se para Jezzin e depois para Damour, ambas cidade no Líbano. Após um ano, retornaram à terra natal sendo essa não mais território palestino, fazendo agora parte de Israel. Sem dúvida, construía-se naquele momento o imaginário que persistiria Mahmoud Darwish ao longo de sua caminhada.
O poeta cursou o ensino médio em Kafr Yasif e pouco tempo depois publicou seu primeiro livro de poesia "Asafir bila Ajniha" (O Pardal sem Asas), aos dezenove anos. Em 1970 deixou Israel e viajou para a Rússia, onde frequentou a Universidade de Moscou por um ano, antes de se mudar para o Egito e Líbano.
Mahmoud Darwish tornou-se uma figura polêmica. Filiou-se ao Partido Comunista de Israel e tornou-se membro da OLP (Organização para a libertação da Palestina). Publicou diversos poemas em favor de uma visão política esquerda e foi preso por praticar tais atividades.
Darwish trabalhou como jornalista em jornais como o Al-Ahram, em 1971 no Cairo, e no mensal Shu'un Filistiniyya, em 1973 no Líbano.
Casou-se duas vezes. Sua primeira esposa foi a escritora Rana Kabbani, e sua segunda esposa foi a tradutora egípcia Hayat Heeni, não obtendo filhos em nenhum dos casamentos.
Seus primeiros escritos seguiram o estilo e a tradicional métrica árabe clássica. Porém, nos anos setenta, o autor abriu mão de tais preceitos e passou a escrever também em versos-livres. Segue abaixo, em árabe e em português, um de seus escritos mais famosos intitulado "Carteira de Identidade", poema contido no livro "Leaves of Olives", publicado em 1964.

سجل... انا عربي...
ورقم بطاقتي خمسون الف
واطفالي ثمانية
وتاسعهم سيأتي بعد صيف
فهل تغضب

سجل... انا عربي...
واعمل مع رفاق الكدح في محجر
واطفالي ثمانية
اسلّ لهم رغيف الخبز والاثواب والدفتر
من الصخر
ولا اتوسل الصدقات من بابك
ولا اصغر امام بلاط اعتابك
فهل تغضب

سجل...
انا عربي...
انا اسم بلا لقب
صبور في بلاد كل ما فيها
يعيش بفورة الغضب
جذوري
قبل ميلاد الزمان رست
وقبل تفتح الحقب
وفبل السرو والزيتون
وقبل ترعرع العشب
ابي من اسرة المحراث لا من سادة نجب
وجدي كان فلاحا بلا حسب.. ولا نسب
يعلمني شموخ الشمس قبل قراءة الكتب
ويبتي كوخ ناطور من الاعواد والقصب
فلا ترضيك منزلتي ؟
انا اسم بلا لقب !

سجل... انا عربي...
ولون الشعر فحمي ولون العين بني
وميزاتي: على رأسي عقال فوق كوفية
وكفي صلبة كالصخر.. تخمش من يلامسها
وعنواني : انا من خربة عزلاء…منسية
شوارعها بلا اسماء
وكل رجالها.. في الحقل والمحجر
فهل تغضب؟

سجل... انا عربي...
سلبت كروم اجدادي وارضا كنت افلحها
انا وجميع اولادي
ولم تترك لنا ولكل احفادي
سوى هذي الصخور..
فهل ستأخذها حكومتكم..كما قيلا
اذن!
سجل...
برأس الصفحة الاولى
انا لا اكره الناس, ولا اسطو على احد
ولكني... اذا ما جعت, آكل لحم مغتصبي
حذار... حذار... من جوعي ومن غضبي


Registra-me
sou árabe
o número de minha identidade é cinqüenta mil
tenho oito filhos
e o nono... virá logo depois do verão
vais te irritar por acaso?

Registra-me
sou árabe
trabalho com meus companheiros de luta
em uma pedreira
tenho oito filhos arranco pedras
o pão, as roupas, os cadernos esquecidos
e não venho mendigar em tua porta

e não me dobro
diante das lajes de teu umbral
vais te irritar por acaso?

registra-me
sou árabe
meu nome é muito comum
e sou paciente
em um país que ferve de cólera
minhas raízes...
fixadas antes do nascimento dos tempos
antes da eclosão dos séculos
antes dos ciprestes e oliveiras
antes do crescimento vegetal
meu pai... da família do arado
e não dos senhores do Nujub
e meu avô era camponês
sem árvore genealógica
minha casa
uma cabana de guarda
de canas e ramagens
satisfeito com minha condição
meu nome é muito comum


registra-me
sou árabe
sou árabe
cabelos... negros
olhos... castanhos
sinais particulares

um kuffiah e uma faixa na cabeça
arranharam as mãos que estreitam
e amo acima de tudo
o azeite de oliva e o tomilho
meu endereço
sou de um povoado perdido...

de ruas sem nome
e todos os seus homens... no

campo e na pedreira
amam o comunismo

vais te irritar por acaso?

registra-me
sou árabe
tu me despojaste dos vinhedos de
meus antepassados
e da terra que cultivava
com meus filhos
e não os deixastes
nem a nossos descendentes
mais que estes seixos
que nosso governo tomará também
como se diz
vamos!
escreve
bem no alto da primeira página
que não odeio os homens
que eu não agrido ninguém
mas... se me esfomeiam
como a carne de quem me despoja
e cuidado...cuida-te
de minha fome
e minha cólera

de Folhas de Oliveira


Mahmoud Darwish morreu no dia 9 de agosto de 2008 em Houston, USA, aos 67 anos, durante uma cirurgia cardíaca. Ao longo de sua vida, publicou mais de trinta livros de poesia e oito livros de prosa. Em 2001 recebeu o prêmio Lannan por sua incansável luta pela liberdade cultural. Vários de seus poemas foram musicados, tais como Rita, aves da Galiléia e Sonho com o pão de minha mãe.

"Ele manifestava a pulsação dos palestinenses, em bela poesia. Era um espelho da sociedade palestinense." Ali Qleibo.


terça-feira, 3 de março de 2009

Cine-debate em Petrópolis - RJ

Será realizado em Petrópolis, interior do estado do Rio de Janeiro, um cine-debate intitulado Palestina: um drama contemporêneo.

Programação:

- 9 de março - 18 h: Abertura da exposição fotógrafica Palestina: Um drama contemporâneo e projeção do filme A espera.
- 17 de março - 18 h: Projeção do filme: Fronteiras do medo e de sonhos.
- 23 de março - 19 h: Projeção do filme: Nós e os outros.
- 30 de março- 19 h: Projeção do filme: A noiva síria.

Os debates serão realizados em todos os dias do evento por importantes estudiosos da área. Estarão presentes Hani Hazime, Houda Bakour, Paulo Gabriel Hilu e Beatriz Bíssio.

Centro Cultural FASE - Casa Hercílio Esteves.
Av. Barão do Rio Branco, 1003 - Petrópolis.
Informações: (24) 2242-6433.
Entrada Franca.

Vale a pena conferir.

Atenção Curitiba!

No dia 9 de março de 2009 acontecerá na capital paranaense a Mostra de Cinema Árabe Contemporâneo, realizada pelo ICArabe em parceria com Andrade Vieira. Serão exibidos filmes do acervo do instituto: Selves and Others, Beirute Ocidental e Zigziland. O famoso documentário Reel Bad Arabs também será exibido no evento. Após os vídeos, realizar-se-ão debates com especialistas, críticos e cineastas.

Dia(s): de 09 a 13 de março
Hora: 2 sessões de exibição. 15 e 19 horas
Rua Padre Anchieta, 458 - Mercês
Informações: (041) 3223-4343
www.cinevideo1.com.br
www.acpr.com.br
www.icarabe.org

Vale a pena conferir!

domingo, 1 de março de 2009

Najwa Karam, a diva libanesa.

Você conhece Najwa Nicola Karam? Najwa nasceu em Zahle, líbano, em 1966. Seus pais, Karam Karam e Barbara Shaheen Karam, tiveram cinco filho, sendo najwa a mais nova. Najwa estudou em sua cidade natal e graduou-se em Filosofia, lecionando durante dois anos. Porém, seu talento evidente para o canto a levou em 1985 ao Layali Lobnan, um programa de tv no qual revela novos talentos. A cantora destacou-se devido a sua voz extraordinária, ganhou a competição e levou a medalha de ouro. A partir daquele momento, Najwa Karam se tornou uma das maiores cantoras árabes modernas e mantem-se na lista dos mais ouvidos até os dias atuais.
alguns dos hits mais famosos são:

-Saharni;
-Hayda Haki;
-Rouh Rouhi;
-Hazi Helu;
-Ma hada La Hada;
-Ya Habeyeb;
-Law Ma btkezob.


Najwa Karam é dona de uma voz única. Sites como youtube, wikipedia etc. estão repletos de material sobre a cantora. No youtube há uma quantidade infinita de vídeo, clipes e entrevistas. Vale a pena conferir e conhecer um pouco da música moderna árabe.

Bom divertimento.